A proposta de produção solicitou a continuação da narrativa:
Começo e continuação
Ouvi primeiro o ruído de cascos pisando a
grama, mas continuei deitado de bruços na esteira que havia estendido ao lado
da barraca. Senti nitidamente o cheiro acre muito próximo. Virei-me devagar,
abri os olhos. O cavalo erguia-se interminável na minha frente. Em cima dele
havia uma espingarda apontada para mim e atrás da espingarda um velhinho de
chapéu de palha, que disse logo o seguinte:
- O que você faz aqui, quem é você?
Olhei-o novamente, estava falando comigo,
seu tom de voz não era amigável. Disse de novo:
- O que faz aqui, quem é você? Diga!
- Sou Ricardo, venho da cidade.
Ele desceu de seu enorme cavalo e sentou-se
ao meu lado, olhava-me com curiosidade e nervosismo, parecia que não tinha
muito contato com as pessoas. Perguntei:
- Quem
é o senhor?
- Sou eu.
Não entendi sua resposta. Queria saber mais,
porém seu olhar me intimidava e não abaixava a espingarda. Continuei
perguntando:
- Senhor, é dono desta terra?
- Sou dono do mundo, o mundo é minha casa.
Continuava misterioso, mas já relaxava e a
espingarda não mirava mais no meu coração. Ele olhava distante como se
lembrasse de algo e me falou:
- Tinha uma mulher, vivíamos aqui, nossa
casa era simples, mas existia felicidade. Um dia minha mulher se foi, a felicidade
também. Vendi a casa e fui morar no mundo, em cada canto que dava e às vezes
passo por aqui para lembrar que fui feliz.
- O senhor é bom, desculpe-me invadir seu
espaço.
- Não tem nada não, esse espaço só foi meu
enquanto ela viveu. Agora já vou indo, procurar uma cama para dormir. Até mais.
Despediu-se. Foi embora no seu cavalo
gigante e eu fiquei ali imaginando a vida sofrida daquele pobre homem que se
entristeceu pela morte da mulher. Dormi.
Geovana - 9° ano - 2014